AO FUTURO, COM R$ 13,32 POR TRIMESTRE
Não pensei que, chegando aos meus 60 anos de carreira,
teria que começar a me preocupar com minha sobrevivência. Meus direitos
autorais seriam minha aposentadoria quando eu parasse de fazer shows porque
quando se chega a uma certa idade, viagens já não são muito confortáveis. Nunca
fui um compositor popular e minha integridade musical sempre se manteve intacta.
Jamais escrevi qualquer música para que fosse um Hit, ou para seguir modismos e
agradar a qualquer tribo. O que me guia e sempre me guiou foi a qualidade acima
de tudo e uma coerência artística da qual não abro mão. Pois bem, num país onde
a classe média (aquela que consome e investe em cultura) está cada vez mais
achatada e onde a venda de CDs e DVDs caiu vertiginosamente, sendo o marco da
minha descrença com esse tipo de produto, o fechamento da Modern Sound, não
vejo saída a não ser receber meus direitos de execução pública, referentes ao
que se toca em rádio e TV, música ao vivo, eventos, piano bar, elevador, avião,
etc... Isso é uma constatação irrefutável, visto que a Universal Music, onde
lancei meus 5 primeiros LPs, relançados no mundo todo em CD, menos no Brasil e
onde gravei clássicos como Minha namorada, Coisa mais linda, etc... que também
foram gravadas por Fagner, Caetano, e outros com uma visibilidade na mídia
sempre maior que a minha, me depositam os direitos autorais relativos ao
primeiro trimestre de 2013, no valor de R$13,32. E acabo de receber os direitos
da SOM LIVRE, também pelo trimestre, no valor de R$0,42.
Com o ECAD sendo alvo das comissões representadas por
deputados que têm concessões de rádio e TV, e que tem por objetivo deixar de
pagar a dívida de R$2.000.000.000,00 com a entidade, o que restará aos
compositores em idade avançada que não conseguirem mais viajar fazendo shows? Espanto-me ao ver o site do MinC fazendo
apologia ao livre conteúdo, com logomarca do CREATIVE COMMONS estampada lá.
Conteúdo é criado por pessoas que precisam comer, morar, pagar plano de saúde,
se vestir, se deslocar. Ou acham que conteúdo aparece sem esforço algum? Não me
considero um autor esquecido como frizaram na mídia serem estes os que reclamam
por não receberem seus direitos. Tão pouco sou contra o ECAD, já que nossa
associações de autores é que o criaram para centralizar nossa arrecadação,
conseguindo uma gestão mais eficiente. Agora, uma comissão que não entende nada
do assunto nos multa por formação de CARTEL. O único CARTEL que vejo no momento
é o dos que se uniram, sob os auspícios de seus mandatos, para usurpar o
direito do autor e poderem fazer uso indiscriminado de OBRAS que foram criadas
com suor. A única saída que vejo, é que o governo institua uma aposentadoria especial,
como complemento ao direito de autor, para os criadores que chegando a uma
determinada idade, sejam recompensados pelo seu valor e pelo reconhecimento
internacional do Brasil através de suas obras, tais quais Embaixadores do país.
Quanto recebe um Embaixador aposentado? Fica aqui minha sugestão.
Carlos
Lyra