Hoje,
quando no Brasil queremos saber por onde anda a Esquerda, nos deparamos com duas possibilidades, ambas festivas e manifestas:
a esquerda petista e a esquerda arrependida. A primeira, mais para canhota ou sinistra, é a que continua seguindo
os dogmas Stalinistas-Leninistas. A segunda é a que, lamentando à moda de Jeremias,
a derrocada da União Soviética, a queda do muro de Berlim, etc., mostra sinais
de profundo arrependimento por ter seguido, enganosamente, os preceitos
daqueles caminhos e perdido, por uma tal maçã de Eva, as delícias do Paraíso.
Há no
entanto, se bem que menos manifesta, uma terceira possibilidade de referência,
ou seja, de estudiosos que entendem o Marxismo como uma filosofia ou ciência
politico-social-econômica e não um mero partido político. Que, como toda
ciência, o Marxismo é passível de mudança e evolução e que a revolução, em
contrapartida, no referente à ciência, só se compreende, ali, em sentido
figurado. Que, se atentarmos para os fatos, as revoluções, no sentido político,
a exemplo da francesa, da soviética, da chinesa, da cubana, da de 64 no Brasil,
etc., resultaram em fracassos político-sociais e/ou econômicos lastimáveis.
Por outro
lado, não era sem fundamento que Karl Marx vaticinava que os únicos lugares
onde o Socialismo poderia acontecer, naquela época, seria na Alemanha ou nos
Estados Unidos, onde o Capitalismo estaria suficientemente desenvolvido para,
eventualmente, evoluir em Socialismo
assim como a sociedade escravagista primitiva evoluiu em Feudalismo e o Feudalismo
evoluiu em Mercantilismo capitalista, tudo pelo concurso da evolução das
ciências e nunca através de quaisquer revoluções.
Ironicamente,
os Stalinistas chegaram mesmo a declarar que o Socialismo, como não podia deixar de ser, instalou-se no único país
onde tal coisa seria possível, ou seja na U.R.S.S. Todos vimos no que deu…
Para que se observe o verdadeiro pensamento de Marx, ele ainda definia os
sistemas políticos pelas máximas que seguem. Capitalismo: a cada um segundo
suas oportunidades. Socialismo: a
cada um segundo seu trabalho. Comunismo: a cada um segundo suas necessidades.
Além de revolução, há ainda o
conceito de ditadura. O Stalinismo-Leninismo
soviético alardeou insistentemente a ditadura
do proletariado sem levar em conta que um Socialismo democrático só se compreende
num estado político equilibrado e não comporta nenhum tipo de ditadura, seja de
quem for. Na verdade, as ditaduras só são compatíveis com regimes arbitrários e/ou
sanguinários que nada têm a ver com Marxismo e sim com nazismos, fascismos,
castrismos, chavismos, bolivarismos e extremismos em geral.
Cumpre
acrescentar que o Marxismo, sendo uma filosofia, ou uma ciência politico-socioeconômica e concebida
no século XIX, a exemplo de outras ciências também concebidas no mesmo século -
tais como a Psicanálise de Freud e a Evolução das Espécies de Darwin - também
evoluiu e foi modificada ou atualizada. Isso, que os soviéticos chamavam
pejorativamente de reformismo,
aconteceu sem o conhecimento da maioria das pessoas. Não querendo dizer com tudo isso que Marx,
Freud e Darwin, não tenham sido, legitimamente, os inventores das respectivas
rodas.
C.L.
Setembro de
2015