Música de Corôa
Assisti, recentemente, a um filme
nacional - "Olhos azuis"
- muito bem escrito e dirigido por José Joffily. Uma cena que me chamou a
atenção foi de um diálogo entre um cinquentão norte-americano e uma
brasileira
adolescente e nordestina. Durante uma viagem de carro, a garota ligou o
rádio,
alto, pra ouvir aquelas músicas, no caso, bastante ruins. O gringo
perguntou se
aquilo era necessário e por que ela não ouvia música boa como Bossa
Nova, por
exemplo. "Isso é música de corôa." Respondeu ela. No que ele
contestou: "mas rock and roll ainda é mais velho do que isso!"
Imediatamente comecei a conjeturar que Elvis Presley é bem mais antigo
do que a
Bossa Nova, só que a música foi lançada nos EUA, onde as coisas com o
mínimo de
qualidade, tendem a se preservar. E a Bossa Nova, nasceu no Brasil, num
período
muito especial da nossa história e do nosso desenvolvimento econômico.
Realmente, na época de Juscelino, os surtos culturais aconteceram em
todas as
áreas: na música, no cinema, nas artes plásticas, no teatro e na
literatura,
destacando-se, nessa última, a poesia concreta que foi até exportada
para a
Europa. Nesses "anos dourados" a juventude acorria aos shows de Bossa
Nova que se realizavam nos bares, nos teatros e nas universidades. Isso
tudo
durou até 1964, quando o golpe militar desencaminhou nossa cultura e
educação.
E isso até os dias de hoje, onde o público adepto à Bossa Nova, se
equipara em
faixa etária ao norte-americano do filme que comentei. Sempre afirmei, e
repito, que Bossa Nova não é uma música de geração, mas é uma música de
classe
média, haja vista que até hoje toca-se Bossa Nova nos EUA, na Europa, no
Japão
e em qualquer lugar onde exista uma classe média significativa. No
Brasil, e
especialmente no Rio de Janeiro, o berço da Bossa Nova, quando um
estrangeiro
aqui chega e pergunta aonde se pode ouvir esse tipo de música, temos que
responder, melancolicamente, que não existe tal lugar. Além do prejuízo
cultural, isso resulta em perda de proveitosos ingressos econômicos, sem
falar
que o nível cultural da juventude, em sua maioria, quase se equipara ao
dos
bolsa-família. Por outro lado, a juventude alfabetizada, tende mais a
buscar
informações na internet, o que não deixa de ser um recurso ao alcance de
todos,
mas não tem o mesmo encaminhamento cultural que um disco, uma exposição,
um
livro ou uma peça de teatro. Com tudo isso resulta a educação ter caído a
um nível bastante medíocre. Mas como diz o ditado: "a esperança é a
última
que morre!".