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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

MARXISMO E ESQUERDISMO SOVIÉTICO


Faz-se necessário esclarecer, de uma vez por todas, a eterna confusão que existe entre Marxismo e Esquerdismo Soviético. O primeiro data do século XIX e foi elaborado por Marx e Engels, dois filósofos cientistas, discípulos de Hegel de quem herdaram a Dialética e estabeleceram, entre tantos conceitos, o de Materialismo Dialético, Materialismo Histórico e as leis da Dialética. O segundo foi desenvolvido, no século XX, por Lenin e Stalin, dois políticos apenas, que se intitulavam marxistas e posteriormente, deixaram Marx e Engels como cúmplices responsáveis pelos genocídios e outros absurdos praticados pelos países ditos socialistas. O Marxismo, por sua vez, como ciência, é passível de evolução e transformação através dos tempos. Um marxista de hoje repudia os estados totalitários, as revoluções sangrentas e conceitos tais como Ditadura do Proletariado, exatamente por não aceitar nenhum tipo de ditadura, de quem quer que seja, assim como rejeita máximas do tipo Os fins justificam os meios, típicas do Esquerdismo Sovietico.

Um marxista, atualmente, também reconhece o Capitalismo Liberal como um sistema econômico perfeitamente compatível com os tempos atuais lembrando que a Sociedade Primitiva evoluiu em Sociedade Medieval, chegando a Sociedade Capitalista e acreditando que eventualmente se transformará na Sociedade Socialista, de forma evolutiva e natural, sem revoluções desnecessárias: imagine-se, durante a Sociedade Medieval, um partido capitalista revolucionário que pretendesse chegar a seus fins, pela força.  Sabe-se que as revoluções, sem exceção, redundaram em fracassos desastrosos, a exemplo da revolução russa e a francesa de 1789 que deixou a França à reboque da Inglaterra e da Alemanha. A China, depois de Mao-Tse-Tung, retrocedeu às práticas capitalistas e apesar de ser um estado totalitário, denota um considerável desenvolvimento econômico.

A maior ameaça ao Capitalismo Liberal de hoje seria o chamado Globalismo dos Rockfellers, Fords, Morgans, Council of Foreign Relations, Clube Bilderberg, Instituto Tavistock, ONU e etc., que afirmando serem os governos locais incompetentes para a solução dos problemas humanos, pratica um megacapitalismo selvagem e monopolista, pois já cansado das oscilações do mercado nacional dedica-se à exploração internacional e à criação de um governo mundial. Essa solução de problema contradiz a opinião de sábios como Aristóteles, Descartes e Leibnitz que afirmavam ser a melhor maneira de resolver um problema, subdividi-lo em partes menores: haja vista a subdivisão inteligente de um governo em federal, estadual e municipal podendo-se ainda acrescentar a isso às organizações de bairro.

Finalmente, hoje, um marxista não veria a religião como O ópio do povo, máxima com que foi tachada injustamente, pois vê na religião, como no idioma, um aspecto da identidade de um povo assim como, especialmente quanto à população menos ilustrada, um freio para toda ordem de desmandos sociais. Considera, ainda, que a diferença entre um marxista e um cristão, ou religioso, é ser este um idealista, ou seja, o que crê que ideia gera a matéria – sendo Deus a ideia geradora - enquanto que aquele é, fundamentalmente, um materialista, que não seria, no sentido que se supõe habitualmente, um indivíduo apenas interessado nos bens materiais, mas no sentido filosófico, ou seja, alguém que crê que a matéria é que gera as ideias. É na livre escolha de uma dessas opções, por exemplo, que reside o princípio de Democracia.  


C.L. 
Novembro, 2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

NADA MAIS ME ENGANA…


Não quero parecer nenhum teórico de conspirações, mas sinto-me como vítima impotente de um complô estratégicamente planejado para adestrar e confundir a população (neste caso, do mundo inteiro). Supunha-se que o sistema econômico condizente com a sociedade atual seria um capitalismo liberal. Mas não é o que acontece. Existe um megacapitalismo monopolista e globalista que, não tendo mais de onde tirar em casa, propõe-se a um esquema de exploração internacional, a exemplo dos Rockefeller, Ford, Morgan, Clube Bilderberg, Council of Foreign Relations, Trilateral Comission (USA, Europa e Japão), ONU e outros que, para surpresa dos inocentes, já tiveram ocasião de prestar subsídios ao nazismo hitlerista e aos comunismos soviético e chinês.

Seguindo as instruções do filósofo pseudo-marxista Herbert Marcuse seus seguidores e simpatizantes globalistas, depois da derrocada soviética entenderam que o proletariado, devido às vantagens alcançadas pelo capitalismo, já não servia como contingente revolucionário e que, portanto era necessário recrutar outros descontentes tais como artistas e intelectuais que não se sentiram devidamente reconhecidos, afrodescendentes, gays e feministas  oprimidos pelo preconceito ou truculência machista, jovens e adolescentes em conflito com a casa paterna e, enfim, prostitutas, delinquentes, bandidos, traficantes, etc., rejeitados pela sociedade.

Enquanto se estabelece a simbiose entre revolucionários e marginais, nada impede que a antiga aliança entre megacapitalistas e revolucionários subsista estendendo-se num grande caldo globalista que maquina e apoia campanhas tipo movimentos gays, pró-abortos, auxilio reclusão (bolsa bandido), desarmamento civil, liberação de drogas, cotas especiais para negros, lei seca, tudo no sentido, repito, de adestrar a população para que esta vá aprendendo, simplesmente, a obedecer os comandos. Quero deixar claro que quem faz estas observações é um marxista convicto mas que respeita as religiões e rejeita os regimes soviético, chinês ou cubano, ditaduras do proletariado e máximas imorais tipo “os fins justificam os meios”. Que acreditando ser o Marxismo um sistema filosófico-econômico com fundamentos científicos só espera que os marxistas contemporâneos se lembrem de que tal filosofia, concebida no século XIX, é passível de evolução como qualquer ciência.

Quero acrescentar que, o que me incomoda  nas campanhas lobistas é o fato de contrariarem o direito individual de decisão sobre as nossas próprias necessidades. Eu mesmo, como residente em Nova York, já fui membro do movimento Black Power em Fire Island, com Stokely Carmichael e Miriam Makeba. Que mesmo sendo heterosexual, também convicto, sempre tive amigos homossexuais muito queridos que nada tiveram de identificação com as ilusões dos movimentos gays. Mais ainda, várias amigas lésbicas caracterizaram-me como um macho possuidor de acentuado lado feminino, tanto que em minha casa é minha mulher quem conserta computadores, dirige automóvel, assiste jogo de futebol pela televisão e controla as contas bancárias. Depois de tudo isso só posso comungar com o que diz minha parceira Joyce Moreno numa letra que fez para uma de minhas músicas: “Hoje, com meu botões, penso que nada mais me engana...”

C.L.

Novembro de 2015

domingo, 8 de novembro de 2015

PAUL McCARTNEY



Tenho uma grande admiração por Paul McCartney, antes de mais nada pela capacidade melódica de suas canções e que além de excelente melodista e harmonista primoroso é ainda um cantautor sempre agradável. Quando ouvi os Beatles por primeira vez, tudo neles me chamou a atenção. Eu, de minha parte, já havia gravado dois discos de carreira e a Bossa Nova era sucesso no Brasil. Vimos que eles faziam com o rock o mesmo que fizemos com o samba ou seja importar as harmonias sofisticadas do jazz e elaborá-las à moda dos mestres impressionistas e norte-americanos só que nós, ainda, com o toque da música  francesa e do bolero mexicano,  o mesmo que deu origem ao nosso samba canção. Foi uma mistura que atraiu as classes médias do mundo pois, como nós, eles falavam coloquialmente de amor, como que ao ouvido da mulher, a exemplo dos trovadores provençais do fin-amors, com uma qualidade melódica, harmônica e rítmica à qual os jovens de nosso tempo não estavam habituados.

Foi assim que os dois estilos chegaram a Nova York em 1962 e, em pouco tempo, os Beatles e a Bossa estavam nas paradas de sucesso com eles à frente, mesmo, de Garota de Ipanema de Tom e Vinicius, o que valeu o comentário, não sem reconhecimento, do maestro brasileiro: “É, mas eles são quatro…”

Observando, com mais atenção, sua obra, achei que um deles se destacava como a alma musical do grupo. Paul McCartney diferia de John Lennon, este extravagante, contestador e revolucionário. Afinal, ambos se locupletavam  no conceito de estilo daquele grupo. Mesmo nas parcerias Lennon/McCartney, a exemplo de Roberto/Erasmo, identifico o talento musical de Paul como simples, sofisticado e de bom gosto. Assim como a geração de Caetano, Chico, Marcos Valle, Edú, Dori Caymmi e outros, bebeu na fonte da Bossa Nova para criar uma MPB diferenciada e de qualidade, tanto literária quanto musical, acredito que os Beatles influenciaram a geração seguinte dos James Taylor, Carly Simon, Cat Stevens, etc., todos com carreiras iniciadas nos meados dos anos 60.

Outra coincidência entre os Beatles e a Bossa é o impasse em que tanto Paul quanto eu nos encontramos atualmente. Nossos clássicos, sucessos nas décadas de 60/70, continuam a serem gravados continuamente e, por mais que sigamos compondo, fazendo nossos próprios arranjos, gravando discos e mostrando que criação não tem tempo, os críticos que estão sempre cobrando coisa novas, acabam por comparar o que fazemos hoje com o que foi feito no passado, sem levar em conta que o mundo de ontem era um e o de agora, assim como nós, é outro. Hoje, com a mesma integridade, seguimos criando, bebendo em outras fontes, amadurecendo, observando e absorvendo outras experiências. Não se pode esperar que depois de meio século continuemos a ser os mesmos. O filósofo grego Heraclito já dizia: “Nunca entramos no mesmo rio…” Nem podemos nos ater à máxima do poeta espanhol do século XV, Jorge Manrique: “Cualquiera tiempo pasado fué mejor…”

Por outro lado nossos públicos estão sempre abertos às coisas novas, desde que em nossos repertórios de hoje, sejam inseridos os clássicos que marcaram suas vidas ou a de seus pais. É interessante que a mídia nos cobre e o público não. Enfim, tanto Paul, remanescente dos Beatles como eu, da Bossa Nova continuamos circulando pelo mundo cantando clássicos e novidades, deixando claro que o que fazemos não é uma música de geração e sim uma música de classe média que se perpetua, de geração em geração, nos meios em que se investe e se consome cultura. Isso, pelo menos, enquanto classe média houver...  Fico imaginando se não seria mais uma identificação interessante se compuséssemos alguma coisa juntos.

Carlos Lyra 

Novembro de 2015

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

GOSTO NÃO SE DISCUTE


“Se todos os gostos fossem iguais, coitado do amarelo”. “Gosto não se discute”. Não, não se discute. Mas existem, indiscutivelmente, os indiscutíveis: Bach é indiscutível, Shakespeare é indiscutível, Ravel e Debussy são indiscutíveis, Proust, Fernando Pessôa e Carlos Drummond são indiscutíveis. Há quem diga que o são porque todo mundo gosta. Prefiro crer que é porque têm, realmente, qualidade. São bons porque são bons. Considero-me uma pessoa de bom gosto e bom senso para música, artes dramáticas e literatura, mas nossos gostos pessoais têm curvas sinuosas, inexplicáveis, que dependem de circunstâncias diversas tais como fixações de infância, família, geração, etc. Reconheço, portanto, que nem tudo que eu gosto é bom, assim como nem tudo o que é bom eu gosto. Não gosto de Beethoven, por exemplo, mas não posso deixar de reconhecer que é bom.

Quanto à  Bossa Nova, só me identifico com, no máximo, cinqüenta por cento. Há outros, que sem fazer parte integrante poderiam, sem problema, ser incluídos. Juca Chaves, um dia, adentrou minha Academia de violão exclamando: “Eu nunca disse que era Bossa Nova!” Tranqüilizei-o: “Juca, a Bossa Nova se inspira em todos os gêneros e ritmos brasileiros. Você com suas modinhas, especialmente ”Ana Maria”, é Bossa nova sim.” Ganhei um amigo.  No início do chamado “movimento”, Bené Nunes me alertou que, no futuro, nos iríamos rir dos excessos de “flor, flor, flor”, que se repetiam em nossas letras. Realmente a Bossa Nova era regada a flores… Eu, de minha parte, evitava em minhas letras e a todo o custo o uso de tal vocábulo, entre outros cacoetes.

Minhas opiniões nem sempre agradavam meus pares.  Chico Buarque chegou a ficar zangado comigo porque declarei, sem nenhuma má intenção, que ele era melhor poeta do que músico, assim como Tom Jobim, que apesar de ser excelente letrista era muito superior como músico. Só que Chico, além de considerá-lo melhor poeta do que músico, eu o incluo entre os melhores letristas do mundo como Cole Porter, Jacques Brel e Lorenz Hart. Já Caetano, além de magnífico letrista e poeta é, para mim, um excelente músico cujas melodias transcorrem límpidas e bem desenhadas como nos melhores. Enfim, gosto não se discute.


C.L. 

Novembro de 2015