Proponho-me
a ministrar, em seguida, uma espécie de ligeiro cursinho, se me permitem, sobre Dialética. O termo significa,
segundo os antigos gregos, a arte de
discutir ou, simplesmente, discussão. Determina, em poucas palavras, que tudo
é mudança, nada permanece como está e que
tudo, por estar em movimento, tem passado e futuro, ou seja, tem princípio e
tem fim, sejam a matéria, as coisas, o pensamento e até os sentimentos, como o
amor e - em última instância - tudo. Enfim, nada é eterno, salvo a mudança. Heráclito,
conhecido como o pai da Dialética, dizia: Nunca
entramos no mesmo rio.
Assim uma
fruta, por exemplo, tem sua história de mudança pois começa como uma semente
que se muda em flor, depois em fruto que cai da árvore, apodrece, libera as
sementes que resultam em outras árvores que geram novas frutas… e o filme
recomeça do princípio. Esse movimento
próprio, interno e espontâneo chamou-se de
auto-dinamismo. Menos expressivo, talvez, é o caso de uma mesa cujo passado também foi árvore,
depois prancha e finalmente um objeto útil. Sua ação, devido à intervenção do
homem, já tem o nome de movimento
mecânico. Quanto aos sentimentos, por exemplo o amor, esse pode começar por
uma simpatia passar pela paixão e, as vezes, terminar em ódio.
Três
descobertas, no século XIX: 1) a da célula
viva e seu desenvolvimento, 2) a da
evolução no homem e nos animais 3) e da transformação
de energia, fizeram progredir a Dialética. Antes da descoberta da célula
viva, as espécies eram consideradas como estranhas umas às outras e
distinguia-se o reino animal de um lado e o vegetal de outro. Depois dessa
descoberta foi possível precisar a ideia de
evolução das espécies. Finalmente, a transformação
de energia esclareceu o fenômeno de que som,
luz e calor podem se transformar uns nos outros.
A Dialética
está presente em todas as ciências. Depois de Heráclito, a primeira intervenção
pertinente, filosófica e científica, nessa área, foi a de Georg Hegel que achava
ser o espírito quem descobre na matéria o processo do auto-dinamismo. Depois dele, Karl Marx e Freidrich Engels
inverteram a situação propondo que a matéria é que sugere ao espírito tal
movimento. Estes dois filósofos estabeleceram, ainda, as quatro leis da
Dialética que, independentes de Espiritualismo ou de Materialismo continuam,
até hoje, a ser utilizadas em quaisquer laboratórios científicos.
1-A
primeira lei da Dialética é a denominada Lei
da mudança que se refere a tudo o que foi dito sobre a fruta, a mesa, o
pensamento, sentimentos, e transformação.
2-A segunda
lei da Dialética é a Lei da ação
recíproca, ou da reciprocidade, que estabelece o princípio de que: tudo influi sobre tudo. Como as sementes
da fruta que produzem várias árvores, as árvores que, por sua vez, produzem
novas e numerosas frutas e assim por diante. Esse processo de encadeamento
constante parece sugerir um círculo vicioso, mas que se trata, na verdade, de
uma espiral pois o retorno nunca é ao mesmo lugar mas um tanto acima dele daí o
nome, em linguagem filosófica, de Espiral
em ascendente.
3-A
terceira lei da Dialética é a Lei da
Contradição que demonstra que as coisa se transformam, não só umas nas
outras mas, também, em suas contrárias.
Assim como a semente se transforma em flor e logo em fruta, a vida se
transforma em morte, o sono em vigília, o sólido em líquido, o amor em ódio,
etc. – e vice versa. Isso porque existem, no interior de cada coisa, duas
forças contrárias, em constante oposição, que é o que determina o movimento auto-dinâmico. As coisas,
vivas ou inertes, mudam porque contêm todas, em si mesmas, esse tipo de
contradição dialética.
Uma coisa
começa por uma afirmação da qual sai
uma negação (ou transformação) e
desta, por sua vez, uma negação da negação (transformação da
transformação). Tome-se como exemplo:
1-Afirmação Tese A fruta
2-Negação Antítese As sementes
3-Negação
da negação Síntese As novas árvores
Isso
prossegue indefinidamente, onde cada termo se transforma no seguinte, assim:
1-Afirmação Tese As sementes
2-Negação Antítese As novas árvores
3-Negação
da negação Síntese As novas frutas
E assim por
diante. A mudança de uma coisa em outra ou em sua contrária é o fim do conflito
imediato porque quando o terceiro termo, a
negação da negação, é alcançado, aparece o fim da contradição.
4-A quarta
lei da Dialética é a Lei do progresso por
saltos que mostra que, em determinado momento, a quantidade se transforma em qualidade.
A água, por exemplo, aquecendo de 1 a 99 graus de temperatura, muda apenas de
maneira quantitativa e permanece
sendo água. Aos 100 graus já se transforma em vapor, o que significa uma
mudança qualitativa ou salto qualitativo.
Da mesma forma, decrescendo de 99 graus a um grau, a água sofreu apenas uma
mudança quantitativa. Ao decrescer um grau, chegando à zero graus, se
transforma em gelo o que já estabelece uma mudança qualitativa.
As leis da
Dialética são comprovadamente utilizadas na rotina diária dos laboratórios mas
podem ser observadas, por diletantismo que seja, nas mais simples atividades
materiais ou existenciais do nosso cotidiano.
C.L.
Dezembro de 2015