www.carloslyra.com ----------------------------------------------------------------------- www.myspace.com/carloslyra

sábado, 5 de dezembro de 2015

PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE DIALÉTICA


Proponho-me a ministrar, em seguida, uma espécie de ligeiro cursinho, se me permitem, sobre Dialética. O termo significa, segundo os antigos gregos, a arte de discutir ou, simplesmente, discussão. Determina, em poucas palavras, que tudo é mudança,  nada permanece como está e que tudo, por estar em movimento, tem passado e futuro, ou seja, tem princípio e tem fim, sejam a matéria, as coisas, o pensamento e até os sentimentos, como o amor e - em última instância - tudo. Enfim, nada é eterno, salvo a mudança. Heráclito, conhecido como o pai da Dialética, dizia: Nunca entramos no mesmo rio.

Assim uma fruta, por exemplo, tem sua história de mudança pois começa como uma semente que se muda em flor, depois em fruto que cai da árvore, apodrece, libera as sementes que resultam em outras árvores que geram novas frutas… e o filme recomeça do princípio.  Esse movimento próprio, interno e espontâneo chamou-se de auto-dinamismo. Menos expressivo, talvez, é o caso de  uma mesa cujo passado também foi árvore, depois prancha e finalmente um objeto útil. Sua ação, devido à intervenção do homem, já tem o nome de movimento mecânico. Quanto aos sentimentos, por exemplo o amor, esse pode começar por uma simpatia passar pela paixão e, as vezes, terminar em ódio.

Três descobertas, no século XIX: 1) a da célula viva e seu desenvolvimento, 2) a da evolução no homem e nos animais  3) e da transformação de energia, fizeram progredir a Dialética. Antes da descoberta da célula viva, as espécies eram consideradas como estranhas umas às outras e distinguia-se o reino animal de um lado e o vegetal de outro. Depois dessa descoberta foi possível precisar a ideia de evolução das espécies. Finalmente, a transformação de energia esclareceu o fenômeno de que som, luz e calor podem se transformar uns nos outros.

A Dialética está presente em todas as ciências. Depois de Heráclito, a primeira intervenção pertinente, filosófica e científica, nessa área, foi a de Georg Hegel que achava ser o espírito quem descobre na matéria o processo do auto-dinamismo.  Depois dele, Karl Marx e Freidrich Engels inverteram a situação propondo que a matéria é que sugere ao espírito tal movimento. Estes dois filósofos estabeleceram, ainda, as quatro leis da Dialética que, independentes de Espiritualismo ou de Materialismo continuam, até hoje, a ser utilizadas em quaisquer laboratórios científicos.

1-A primeira lei da Dialética é a denominada Lei da mudança que se refere a tudo o que foi dito sobre a fruta, a mesa, o pensamento, sentimentos, e transformação.

2-A segunda lei da Dialética é a Lei da ação recíproca, ou da reciprocidade, que estabelece o princípio de que: tudo influi sobre tudo. Como as sementes da fruta que produzem várias árvores, as árvores que, por sua vez, produzem novas e numerosas frutas e assim por diante. Esse processo de encadeamento constante parece sugerir um círculo vicioso, mas que se trata, na verdade, de uma espiral pois o retorno nunca é ao mesmo lugar mas um tanto acima dele daí o nome, em linguagem filosófica, de Espiral em ascendente.

3-A terceira lei da Dialética é a Lei da Contradição que demonstra que as coisa se transformam, não só umas nas outras mas, também, em suas contrárias. Assim como a semente se transforma em flor e logo em fruta, a vida se transforma em morte, o sono em vigília, o sólido em líquido, o amor em ódio, etc. – e vice versa. Isso porque existem, no interior de cada coisa, duas forças contrárias, em constante oposição, que é o que determina o movimento auto-dinâmico. As coisas, vivas ou inertes, mudam porque contêm todas, em si mesmas, esse tipo de contradição dialética.

Uma coisa começa por uma afirmação da qual sai uma negação (ou transformação) e desta, por sua vez,  uma negação da negação (transformação da transformação). Tome-se como exemplo:

1-Afirmação                            Tese                           A fruta
2-Negação                               Antítese                    As sementes
3-Negação da negação         Síntese                     As novas árvores 

Isso prossegue indefinidamente, onde cada termo se transforma no seguinte, assim:

1-Afirmação                            Tese                         As sementes
2-Negação                               Antítese                  As novas árvores
3-Negação da negação         Síntese                    As novas frutas

E assim por diante. A mudança de uma coisa em outra ou em sua contrária é o fim do conflito imediato porque quando o terceiro termo, a negação da negação, é alcançado, aparece o fim da contradição.

4-A quarta lei da Dialética é a Lei do progresso por saltos que mostra que, em determinado momento, a quantidade se transforma em qualidade. A água, por exemplo, aquecendo de 1 a 99 graus de temperatura, muda apenas de maneira quantitativa e permanece sendo água. Aos 100 graus já se transforma em vapor, o que significa uma mudança qualitativa ou salto qualitativo. Da mesma forma, decrescendo de 99 graus a um grau, a água sofreu apenas uma mudança quantitativa. Ao decrescer um grau, chegando à zero graus, se transforma em gelo o que já estabelece uma mudança qualitativa.

As leis da Dialética são comprovadamente utilizadas na rotina diária dos laboratórios mas podem ser observadas, por diletantismo que seja, nas mais simples atividades materiais ou existenciais do nosso cotidiano.


C.L.  

Dezembro de 2015

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

MARXISMO E ESQUERDISMO SOVIÉTICO


Faz-se necessário esclarecer, de uma vez por todas, a eterna confusão que existe entre Marxismo e Esquerdismo Soviético. O primeiro data do século XIX e foi elaborado por Marx e Engels, dois filósofos cientistas, discípulos de Hegel de quem herdaram a Dialética e estabeleceram, entre tantos conceitos, o de Materialismo Dialético, Materialismo Histórico e as leis da Dialética. O segundo foi desenvolvido, no século XX, por Lenin e Stalin, dois políticos apenas, que se intitulavam marxistas e posteriormente, deixaram Marx e Engels como cúmplices responsáveis pelos genocídios e outros absurdos praticados pelos países ditos socialistas. O Marxismo, por sua vez, como ciência, é passível de evolução e transformação através dos tempos. Um marxista de hoje repudia os estados totalitários, as revoluções sangrentas e conceitos tais como Ditadura do Proletariado, exatamente por não aceitar nenhum tipo de ditadura, de quem quer que seja, assim como rejeita máximas do tipo Os fins justificam os meios, típicas do Esquerdismo Sovietico.

Um marxista, atualmente, também reconhece o Capitalismo Liberal como um sistema econômico perfeitamente compatível com os tempos atuais lembrando que a Sociedade Primitiva evoluiu em Sociedade Medieval, chegando a Sociedade Capitalista e acreditando que eventualmente se transformará na Sociedade Socialista, de forma evolutiva e natural, sem revoluções desnecessárias: imagine-se, durante a Sociedade Medieval, um partido capitalista revolucionário que pretendesse chegar a seus fins, pela força.  Sabe-se que as revoluções, sem exceção, redundaram em fracassos desastrosos, a exemplo da revolução russa e a francesa de 1789 que deixou a França à reboque da Inglaterra e da Alemanha. A China, depois de Mao-Tse-Tung, retrocedeu às práticas capitalistas e apesar de ser um estado totalitário, denota um considerável desenvolvimento econômico.

A maior ameaça ao Capitalismo Liberal de hoje seria o chamado Globalismo dos Rockfellers, Fords, Morgans, Council of Foreign Relations, Clube Bilderberg, Instituto Tavistock, ONU e etc., que afirmando serem os governos locais incompetentes para a solução dos problemas humanos, pratica um megacapitalismo selvagem e monopolista, pois já cansado das oscilações do mercado nacional dedica-se à exploração internacional e à criação de um governo mundial. Essa solução de problema contradiz a opinião de sábios como Aristóteles, Descartes e Leibnitz que afirmavam ser a melhor maneira de resolver um problema, subdividi-lo em partes menores: haja vista a subdivisão inteligente de um governo em federal, estadual e municipal podendo-se ainda acrescentar a isso às organizações de bairro.

Finalmente, hoje, um marxista não veria a religião como O ópio do povo, máxima com que foi tachada injustamente, pois vê na religião, como no idioma, um aspecto da identidade de um povo assim como, especialmente quanto à população menos ilustrada, um freio para toda ordem de desmandos sociais. Considera, ainda, que a diferença entre um marxista e um cristão, ou religioso, é ser este um idealista, ou seja, o que crê que ideia gera a matéria – sendo Deus a ideia geradora - enquanto que aquele é, fundamentalmente, um materialista, que não seria, no sentido que se supõe habitualmente, um indivíduo apenas interessado nos bens materiais, mas no sentido filosófico, ou seja, alguém que crê que a matéria é que gera as ideias. É na livre escolha de uma dessas opções, por exemplo, que reside o princípio de Democracia.  


C.L. 
Novembro, 2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

NADA MAIS ME ENGANA…


Não quero parecer nenhum teórico de conspirações, mas sinto-me como vítima impotente de um complô estratégicamente planejado para adestrar e confundir a população (neste caso, do mundo inteiro). Supunha-se que o sistema econômico condizente com a sociedade atual seria um capitalismo liberal. Mas não é o que acontece. Existe um megacapitalismo monopolista e globalista que, não tendo mais de onde tirar em casa, propõe-se a um esquema de exploração internacional, a exemplo dos Rockefeller, Ford, Morgan, Clube Bilderberg, Council of Foreign Relations, Trilateral Comission (USA, Europa e Japão), ONU e outros que, para surpresa dos inocentes, já tiveram ocasião de prestar subsídios ao nazismo hitlerista e aos comunismos soviético e chinês.

Seguindo as instruções do filósofo pseudo-marxista Herbert Marcuse seus seguidores e simpatizantes globalistas, depois da derrocada soviética entenderam que o proletariado, devido às vantagens alcançadas pelo capitalismo, já não servia como contingente revolucionário e que, portanto era necessário recrutar outros descontentes tais como artistas e intelectuais que não se sentiram devidamente reconhecidos, afrodescendentes, gays e feministas  oprimidos pelo preconceito ou truculência machista, jovens e adolescentes em conflito com a casa paterna e, enfim, prostitutas, delinquentes, bandidos, traficantes, etc., rejeitados pela sociedade.

Enquanto se estabelece a simbiose entre revolucionários e marginais, nada impede que a antiga aliança entre megacapitalistas e revolucionários subsista estendendo-se num grande caldo globalista que maquina e apoia campanhas tipo movimentos gays, pró-abortos, auxilio reclusão (bolsa bandido), desarmamento civil, liberação de drogas, cotas especiais para negros, lei seca, tudo no sentido, repito, de adestrar a população para que esta vá aprendendo, simplesmente, a obedecer os comandos. Quero deixar claro que quem faz estas observações é um marxista convicto mas que respeita as religiões e rejeita os regimes soviético, chinês ou cubano, ditaduras do proletariado e máximas imorais tipo “os fins justificam os meios”. Que acreditando ser o Marxismo um sistema filosófico-econômico com fundamentos científicos só espera que os marxistas contemporâneos se lembrem de que tal filosofia, concebida no século XIX, é passível de evolução como qualquer ciência.

Quero acrescentar que, o que me incomoda  nas campanhas lobistas é o fato de contrariarem o direito individual de decisão sobre as nossas próprias necessidades. Eu mesmo, como residente em Nova York, já fui membro do movimento Black Power em Fire Island, com Stokely Carmichael e Miriam Makeba. Que mesmo sendo heterosexual, também convicto, sempre tive amigos homossexuais muito queridos que nada tiveram de identificação com as ilusões dos movimentos gays. Mais ainda, várias amigas lésbicas caracterizaram-me como um macho possuidor de acentuado lado feminino, tanto que em minha casa é minha mulher quem conserta computadores, dirige automóvel, assiste jogo de futebol pela televisão e controla as contas bancárias. Depois de tudo isso só posso comungar com o que diz minha parceira Joyce Moreno numa letra que fez para uma de minhas músicas: “Hoje, com meu botões, penso que nada mais me engana...”

C.L.

Novembro de 2015

domingo, 8 de novembro de 2015

PAUL McCARTNEY



Tenho uma grande admiração por Paul McCartney, antes de mais nada pela capacidade melódica de suas canções e que além de excelente melodista e harmonista primoroso é ainda um cantautor sempre agradável. Quando ouvi os Beatles por primeira vez, tudo neles me chamou a atenção. Eu, de minha parte, já havia gravado dois discos de carreira e a Bossa Nova era sucesso no Brasil. Vimos que eles faziam com o rock o mesmo que fizemos com o samba ou seja importar as harmonias sofisticadas do jazz e elaborá-las à moda dos mestres impressionistas e norte-americanos só que nós, ainda, com o toque da música  francesa e do bolero mexicano,  o mesmo que deu origem ao nosso samba canção. Foi uma mistura que atraiu as classes médias do mundo pois, como nós, eles falavam coloquialmente de amor, como que ao ouvido da mulher, a exemplo dos trovadores provençais do fin-amors, com uma qualidade melódica, harmônica e rítmica à qual os jovens de nosso tempo não estavam habituados.

Foi assim que os dois estilos chegaram a Nova York em 1962 e, em pouco tempo, os Beatles e a Bossa estavam nas paradas de sucesso com eles à frente, mesmo, de Garota de Ipanema de Tom e Vinicius, o que valeu o comentário, não sem reconhecimento, do maestro brasileiro: “É, mas eles são quatro…”

Observando, com mais atenção, sua obra, achei que um deles se destacava como a alma musical do grupo. Paul McCartney diferia de John Lennon, este extravagante, contestador e revolucionário. Afinal, ambos se locupletavam  no conceito de estilo daquele grupo. Mesmo nas parcerias Lennon/McCartney, a exemplo de Roberto/Erasmo, identifico o talento musical de Paul como simples, sofisticado e de bom gosto. Assim como a geração de Caetano, Chico, Marcos Valle, Edú, Dori Caymmi e outros, bebeu na fonte da Bossa Nova para criar uma MPB diferenciada e de qualidade, tanto literária quanto musical, acredito que os Beatles influenciaram a geração seguinte dos James Taylor, Carly Simon, Cat Stevens, etc., todos com carreiras iniciadas nos meados dos anos 60.

Outra coincidência entre os Beatles e a Bossa é o impasse em que tanto Paul quanto eu nos encontramos atualmente. Nossos clássicos, sucessos nas décadas de 60/70, continuam a serem gravados continuamente e, por mais que sigamos compondo, fazendo nossos próprios arranjos, gravando discos e mostrando que criação não tem tempo, os críticos que estão sempre cobrando coisa novas, acabam por comparar o que fazemos hoje com o que foi feito no passado, sem levar em conta que o mundo de ontem era um e o de agora, assim como nós, é outro. Hoje, com a mesma integridade, seguimos criando, bebendo em outras fontes, amadurecendo, observando e absorvendo outras experiências. Não se pode esperar que depois de meio século continuemos a ser os mesmos. O filósofo grego Heraclito já dizia: “Nunca entramos no mesmo rio…” Nem podemos nos ater à máxima do poeta espanhol do século XV, Jorge Manrique: “Cualquiera tiempo pasado fué mejor…”

Por outro lado nossos públicos estão sempre abertos às coisas novas, desde que em nossos repertórios de hoje, sejam inseridos os clássicos que marcaram suas vidas ou a de seus pais. É interessante que a mídia nos cobre e o público não. Enfim, tanto Paul, remanescente dos Beatles como eu, da Bossa Nova continuamos circulando pelo mundo cantando clássicos e novidades, deixando claro que o que fazemos não é uma música de geração e sim uma música de classe média que se perpetua, de geração em geração, nos meios em que se investe e se consome cultura. Isso, pelo menos, enquanto classe média houver...  Fico imaginando se não seria mais uma identificação interessante se compuséssemos alguma coisa juntos.

Carlos Lyra 

Novembro de 2015