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sábado, 5 de dezembro de 2015

PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE DIALÉTICA


Proponho-me a ministrar, em seguida, uma espécie de ligeiro cursinho, se me permitem, sobre Dialética. O termo significa, segundo os antigos gregos, a arte de discutir ou, simplesmente, discussão. Determina, em poucas palavras, que tudo é mudança,  nada permanece como está e que tudo, por estar em movimento, tem passado e futuro, ou seja, tem princípio e tem fim, sejam a matéria, as coisas, o pensamento e até os sentimentos, como o amor e - em última instância - tudo. Enfim, nada é eterno, salvo a mudança. Heráclito, conhecido como o pai da Dialética, dizia: Nunca entramos no mesmo rio.

Assim uma fruta, por exemplo, tem sua história de mudança pois começa como uma semente que se muda em flor, depois em fruto que cai da árvore, apodrece, libera as sementes que resultam em outras árvores que geram novas frutas… e o filme recomeça do princípio.  Esse movimento próprio, interno e espontâneo chamou-se de auto-dinamismo. Menos expressivo, talvez, é o caso de  uma mesa cujo passado também foi árvore, depois prancha e finalmente um objeto útil. Sua ação, devido à intervenção do homem, já tem o nome de movimento mecânico. Quanto aos sentimentos, por exemplo o amor, esse pode começar por uma simpatia passar pela paixão e, as vezes, terminar em ódio.

Três descobertas, no século XIX: 1) a da célula viva e seu desenvolvimento, 2) a da evolução no homem e nos animais  3) e da transformação de energia, fizeram progredir a Dialética. Antes da descoberta da célula viva, as espécies eram consideradas como estranhas umas às outras e distinguia-se o reino animal de um lado e o vegetal de outro. Depois dessa descoberta foi possível precisar a ideia de evolução das espécies. Finalmente, a transformação de energia esclareceu o fenômeno de que som, luz e calor podem se transformar uns nos outros.

A Dialética está presente em todas as ciências. Depois de Heráclito, a primeira intervenção pertinente, filosófica e científica, nessa área, foi a de Georg Hegel que achava ser o espírito quem descobre na matéria o processo do auto-dinamismo.  Depois dele, Karl Marx e Freidrich Engels inverteram a situação propondo que a matéria é que sugere ao espírito tal movimento. Estes dois filósofos estabeleceram, ainda, as quatro leis da Dialética que, independentes de Espiritualismo ou de Materialismo continuam, até hoje, a ser utilizadas em quaisquer laboratórios científicos.

1-A primeira lei da Dialética é a denominada Lei da mudança que se refere a tudo o que foi dito sobre a fruta, a mesa, o pensamento, sentimentos, e transformação.

2-A segunda lei da Dialética é a Lei da ação recíproca, ou da reciprocidade, que estabelece o princípio de que: tudo influi sobre tudo. Como as sementes da fruta que produzem várias árvores, as árvores que, por sua vez, produzem novas e numerosas frutas e assim por diante. Esse processo de encadeamento constante parece sugerir um círculo vicioso, mas que se trata, na verdade, de uma espiral pois o retorno nunca é ao mesmo lugar mas um tanto acima dele daí o nome, em linguagem filosófica, de Espiral em ascendente.

3-A terceira lei da Dialética é a Lei da Contradição que demonstra que as coisa se transformam, não só umas nas outras mas, também, em suas contrárias. Assim como a semente se transforma em flor e logo em fruta, a vida se transforma em morte, o sono em vigília, o sólido em líquido, o amor em ódio, etc. – e vice versa. Isso porque existem, no interior de cada coisa, duas forças contrárias, em constante oposição, que é o que determina o movimento auto-dinâmico. As coisas, vivas ou inertes, mudam porque contêm todas, em si mesmas, esse tipo de contradição dialética.

Uma coisa começa por uma afirmação da qual sai uma negação (ou transformação) e desta, por sua vez,  uma negação da negação (transformação da transformação). Tome-se como exemplo:

1-Afirmação                            Tese                           A fruta
2-Negação                               Antítese                    As sementes
3-Negação da negação         Síntese                     As novas árvores 

Isso prossegue indefinidamente, onde cada termo se transforma no seguinte, assim:

1-Afirmação                            Tese                         As sementes
2-Negação                               Antítese                  As novas árvores
3-Negação da negação         Síntese                    As novas frutas

E assim por diante. A mudança de uma coisa em outra ou em sua contrária é o fim do conflito imediato porque quando o terceiro termo, a negação da negação, é alcançado, aparece o fim da contradição.

4-A quarta lei da Dialética é a Lei do progresso por saltos que mostra que, em determinado momento, a quantidade se transforma em qualidade. A água, por exemplo, aquecendo de 1 a 99 graus de temperatura, muda apenas de maneira quantitativa e permanece sendo água. Aos 100 graus já se transforma em vapor, o que significa uma mudança qualitativa ou salto qualitativo. Da mesma forma, decrescendo de 99 graus a um grau, a água sofreu apenas uma mudança quantitativa. Ao decrescer um grau, chegando à zero graus, se transforma em gelo o que já estabelece uma mudança qualitativa.

As leis da Dialética são comprovadamente utilizadas na rotina diária dos laboratórios mas podem ser observadas, por diletantismo que seja, nas mais simples atividades materiais ou existenciais do nosso cotidiano.


C.L.  

Dezembro de 2015

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