CARLO LYRA, ABRIL DE 2016
ALÉM DA BOSSA
quinta-feira, 28 de abril de 2016
ESQUERDA, DIREITA E BOM SENSO
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Só um swing do que será o show do dia 26/02 no VIVO Rio!
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domingo, 31 de janeiro de 2016
O QUE É BOSSA NOVA?
Recentemente dei uma entrevista sobre Bossa
Nova para a BBC de Londres e sabendo que me dirigia a um povo culto me expandi à
vontade, quase que em catarse. Ficou claro que a bossa nova é um fenômeno ainda
não bem compreendido e sugere algumas considerações. Para começar existe uma
grande afinidade com a Escola Provençal
do século XIII, também conhecida como Fin Amors. Ali, Leonor de Aquitânia, mãe de Ricardo Coração de Leão,
era destacada poeta e rodeada de trovadores e menestréis que ao som do alaúde
(ancestral do violão) compunham trovas que eram sussurradas ao ouvido das
mulheres. Também a Bossa Nova é sussurrada e nunca gritada. Romântica e elegante,
nunca vulgar, está de acordo com a descrição do cineasta Luiz Buñuel: o discreto charme da burguesia. Sim
porque a bossa nova nada mais é que um produto da classe média do Rio de Janeiro
que se dirige à classe média do mundo inteiro. Classe média do Rio de Janeiro
que abrigava, além dos cariocas, baianos como João Gilberto, capixabas como
Roberto Menescal e Nara Leão, paraibanos como Geraldo Vandré, acreanos com João
Donato e paulistas como Sérgio Ricardo e Wanda Sá e, futuramente, Toquinho.
Cumpre notar que, durante minha vida artística, constatei uma coisa curiosa: que o talento artístico
independe totalmente de inteligência, cultura, bom caráter e sanidade mental ou
física. Conheci ou ouvi dizer de artistas dotados de indiscutível excelência e,
no entanto, destituídos de uma ou outra das qualidades ou benefícios citados.
Um compositor de Bossa Nova que se preza
sofre uma série de influências que começam com o impressionismo de Ravel e Debussy,
além de Bach, Villa-Lobos, Stravinsky, Brahms e Schumann. Sofre influência do
bolero mexicano de Agustín Lara, Gonzalo Curiel e Maria Griber, bolero esse que
no Brasil tomou o formato de samba canção. Da canção francesa de Charles Trenet
e Henry Salvador. Em seguida vem a influência dos cinco grandes compositores
norte americanos, Cole Porter, George Gerhwin, Jerome Kern, Irving Berlin e Richard
Rogers estes, como nós, identificados com o jazz west coast de Gerry Mulligan, Chet Baker, Shorty Rogers, Barney Kessel,
Stan Kenton e Modern Jazz Quartet.
A Bossa Nova, enfim, deve seu nascimento a
um efervescente surto cultural (e não movimento,
como se diz erroneamente) que se processou no Brasil durante os anos
50 e que se manifestou no teatro com o Teatro
de Arena de São Paulo, o TBC, o Teatro dos Quatro e o Oficina. Nas artes
plásticas com Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Wesley Duke Lee , entre
outros. Na arquitetura com Oscar Niemayer, Lucio Costa e Burle Marx.
Na indústria automobilística, e nos
esportes com Pelé e Garrincha nos mundiais de futebol, com Eder Jofre no box, Maria
Esther Bueno no tênis, Ademar Ferreira da Silva no salto tríplice e até em
beleza com a conquista do título de Miss Universo por Yeda Maria Vargas. A Bossa
Nova foi, nada mais nada menos, que o fundo musical disso tudo.
Quanto ao nome Bossa Nova, esse foi criado
durante uma apresentação que fizemos, em 1958, no Clube Hebraica: eu,
Silvinha Teles, Menescal, Ronaldo Bôscoli e Nara Leão. Na porta do clube havia
um cartaz com nossos nomes seguidos dos dizeres “...e os Bossa Nova”. Perguntei ao produtor e diretor social do clube o
que significava aquilo. A resposta foi: Isso
é um nome que inventei para vocês. Adotamos o nome e soubemos, mais tarde, que esse judeuzinho criativo
se havia mudado para Israel. Depois disso nunca mais ouvimos falar dele.
JANEIRO
DE 2016
CARLOS
LYRA
sábado, 5 de dezembro de 2015
PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE DIALÉTICA
Proponho-me
a ministrar, em seguida, uma espécie de ligeiro cursinho, se me permitem, sobre Dialética. O termo significa,
segundo os antigos gregos, a arte de
discutir ou, simplesmente, discussão. Determina, em poucas palavras, que tudo
é mudança, nada permanece como está e que
tudo, por estar em movimento, tem passado e futuro, ou seja, tem princípio e
tem fim, sejam a matéria, as coisas, o pensamento e até os sentimentos, como o
amor e - em última instância - tudo. Enfim, nada é eterno, salvo a mudança. Heráclito,
conhecido como o pai da Dialética, dizia: Nunca
entramos no mesmo rio.
Assim uma
fruta, por exemplo, tem sua história de mudança pois começa como uma semente
que se muda em flor, depois em fruto que cai da árvore, apodrece, libera as
sementes que resultam em outras árvores que geram novas frutas… e o filme
recomeça do princípio. Esse movimento
próprio, interno e espontâneo chamou-se de
auto-dinamismo. Menos expressivo, talvez, é o caso de uma mesa cujo passado também foi árvore,
depois prancha e finalmente um objeto útil. Sua ação, devido à intervenção do
homem, já tem o nome de movimento
mecânico. Quanto aos sentimentos, por exemplo o amor, esse pode começar por
uma simpatia passar pela paixão e, as vezes, terminar em ódio.
Três
descobertas, no século XIX: 1) a da célula
viva e seu desenvolvimento, 2) a da
evolução no homem e nos animais 3) e da transformação
de energia, fizeram progredir a Dialética. Antes da descoberta da célula
viva, as espécies eram consideradas como estranhas umas às outras e
distinguia-se o reino animal de um lado e o vegetal de outro. Depois dessa
descoberta foi possível precisar a ideia de
evolução das espécies. Finalmente, a transformação
de energia esclareceu o fenômeno de que som,
luz e calor podem se transformar uns nos outros.
A Dialética
está presente em todas as ciências. Depois de Heráclito, a primeira intervenção
pertinente, filosófica e científica, nessa área, foi a de Georg Hegel que achava
ser o espírito quem descobre na matéria o processo do auto-dinamismo. Depois dele, Karl Marx e Freidrich Engels
inverteram a situação propondo que a matéria é que sugere ao espírito tal
movimento. Estes dois filósofos estabeleceram, ainda, as quatro leis da
Dialética que, independentes de Espiritualismo ou de Materialismo continuam,
até hoje, a ser utilizadas em quaisquer laboratórios científicos.
1-A
primeira lei da Dialética é a denominada Lei
da mudança que se refere a tudo o que foi dito sobre a fruta, a mesa, o
pensamento, sentimentos, e transformação.
2-A segunda
lei da Dialética é a Lei da ação
recíproca, ou da reciprocidade, que estabelece o princípio de que: tudo influi sobre tudo. Como as sementes
da fruta que produzem várias árvores, as árvores que, por sua vez, produzem
novas e numerosas frutas e assim por diante. Esse processo de encadeamento
constante parece sugerir um círculo vicioso, mas que se trata, na verdade, de
uma espiral pois o retorno nunca é ao mesmo lugar mas um tanto acima dele daí o
nome, em linguagem filosófica, de Espiral
em ascendente.
3-A
terceira lei da Dialética é a Lei da
Contradição que demonstra que as coisa se transformam, não só umas nas
outras mas, também, em suas contrárias.
Assim como a semente se transforma em flor e logo em fruta, a vida se
transforma em morte, o sono em vigília, o sólido em líquido, o amor em ódio,
etc. – e vice versa. Isso porque existem, no interior de cada coisa, duas
forças contrárias, em constante oposição, que é o que determina o movimento auto-dinâmico. As coisas,
vivas ou inertes, mudam porque contêm todas, em si mesmas, esse tipo de
contradição dialética.
Uma coisa
começa por uma afirmação da qual sai
uma negação (ou transformação) e
desta, por sua vez, uma negação da negação (transformação da
transformação). Tome-se como exemplo:
1-Afirmação Tese A fruta
2-Negação Antítese As sementes
3-Negação
da negação Síntese As novas árvores
Isso
prossegue indefinidamente, onde cada termo se transforma no seguinte, assim:
1-Afirmação Tese As sementes
2-Negação Antítese As novas árvores
3-Negação
da negação Síntese As novas frutas
E assim por
diante. A mudança de uma coisa em outra ou em sua contrária é o fim do conflito
imediato porque quando o terceiro termo, a
negação da negação, é alcançado, aparece o fim da contradição.
4-A quarta
lei da Dialética é a Lei do progresso por
saltos que mostra que, em determinado momento, a quantidade se transforma em qualidade.
A água, por exemplo, aquecendo de 1 a 99 graus de temperatura, muda apenas de
maneira quantitativa e permanece
sendo água. Aos 100 graus já se transforma em vapor, o que significa uma
mudança qualitativa ou salto qualitativo.
Da mesma forma, decrescendo de 99 graus a um grau, a água sofreu apenas uma
mudança quantitativa. Ao decrescer um grau, chegando à zero graus, se
transforma em gelo o que já estabelece uma mudança qualitativa.
As leis da
Dialética são comprovadamente utilizadas na rotina diária dos laboratórios mas
podem ser observadas, por diletantismo que seja, nas mais simples atividades
materiais ou existenciais do nosso cotidiano.
C.L.
Dezembro de 2015
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
MARXISMO E ESQUERDISMO SOVIÉTICO
Faz-se necessário esclarecer, de uma vez por todas, a
eterna confusão que existe entre Marxismo e Esquerdismo Soviético. O primeiro
data do século XIX e foi elaborado por Marx e Engels, dois filósofos
cientistas, discípulos de Hegel de quem herdaram a Dialética e estabeleceram,
entre tantos conceitos, o de Materialismo Dialético, Materialismo Histórico e
as leis da Dialética. O segundo foi desenvolvido, no século XX, por Lenin e
Stalin, dois políticos apenas, que se intitulavam marxistas e posteriormente,
deixaram Marx e Engels como cúmplices responsáveis pelos genocídios e outros
absurdos praticados pelos países ditos socialistas. O Marxismo, por sua vez,
como ciência, é passível de evolução e transformação através dos tempos. Um
marxista de hoje repudia os estados totalitários, as revoluções sangrentas e
conceitos tais como Ditadura do
Proletariado, exatamente por não aceitar nenhum tipo de ditadura, de quem quer
que seja, assim como rejeita máximas do tipo Os fins justificam os meios, típicas do Esquerdismo Sovietico.
Um marxista, atualmente, também reconhece o
Capitalismo Liberal como um sistema econômico perfeitamente compatível com os
tempos atuais lembrando que a Sociedade Primitiva evoluiu em Sociedade
Medieval, chegando a Sociedade Capitalista e acreditando que eventualmente se
transformará na Sociedade Socialista, de forma evolutiva e natural, sem
revoluções desnecessárias: imagine-se, durante a Sociedade Medieval, um partido
capitalista revolucionário que pretendesse chegar a seus fins, pela força. Sabe-se que as revoluções, sem exceção,
redundaram em fracassos desastrosos, a exemplo da revolução russa e a francesa
de 1789 que deixou a França à reboque da Inglaterra e da Alemanha. A China,
depois de Mao-Tse-Tung, retrocedeu às práticas capitalistas e apesar de ser um
estado totalitário, denota um considerável desenvolvimento econômico.
A maior ameaça ao Capitalismo Liberal de hoje seria o
chamado Globalismo dos Rockfellers, Fords, Morgans, Council of Foreign
Relations, Clube Bilderberg, Instituto Tavistock, ONU e etc., que afirmando
serem os governos locais incompetentes para a solução dos problemas humanos,
pratica um megacapitalismo selvagem e monopolista, pois já cansado das
oscilações do mercado nacional dedica-se à exploração internacional e à criação
de um governo mundial. Essa solução de problema contradiz a opinião de sábios
como Aristóteles, Descartes e Leibnitz que afirmavam ser a melhor maneira de
resolver um problema, subdividi-lo em partes menores: haja vista a subdivisão
inteligente de um governo em federal, estadual e municipal podendo-se ainda acrescentar
a isso às organizações de bairro.
Finalmente, hoje, um marxista não veria a religião
como O ópio do povo, máxima com que
foi tachada injustamente, pois vê na religião, como no idioma, um aspecto da
identidade de um povo assim como, especialmente quanto à população menos
ilustrada, um freio para toda ordem de desmandos sociais. Considera, ainda, que
a diferença entre um marxista e um cristão, ou religioso, é ser este um idealista, ou seja, o que crê que ideia
gera a matéria – sendo Deus a ideia geradora - enquanto que aquele é, fundamentalmente,
um materialista, que não seria, no
sentido que se supõe habitualmente, um indivíduo apenas interessado nos bens
materiais, mas no sentido filosófico, ou seja, alguém que crê que a matéria é
que gera as ideias. É na livre escolha de uma dessas opções, por exemplo, que
reside o princípio de Democracia.
C.L.
Novembro, 2015
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
NADA MAIS ME ENGANA…
Não quero parecer nenhum teórico de
conspirações, mas sinto-me como vítima impotente de um complô estratégicamente
planejado para adestrar e confundir a população (neste caso, do mundo inteiro).
Supunha-se que o sistema econômico condizente com a sociedade atual seria um
capitalismo liberal. Mas não é o que acontece. Existe um megacapitalismo monopolista e globalista que,
não tendo mais de onde tirar em casa, propõe-se a um esquema de exploração
internacional, a exemplo dos Rockefeller, Ford, Morgan, Clube Bilderberg,
Council of Foreign Relations, Trilateral Comission (USA, Europa e Japão), ONU e
outros que, para surpresa dos inocentes, já tiveram ocasião de prestar subsídios
ao nazismo hitlerista e aos comunismos soviético e chinês.
Seguindo as instruções do filósofo
pseudo-marxista Herbert Marcuse seus seguidores e simpatizantes globalistas,
depois da derrocada soviética entenderam que o proletariado, devido às
vantagens alcançadas pelo capitalismo, já não servia como contingente
revolucionário e que, portanto era necessário recrutar outros descontentes tais
como artistas e intelectuais que não se sentiram devidamente reconhecidos, afrodescendentes,
gays e feministas oprimidos pelo
preconceito ou truculência
machista, jovens e adolescentes em conflito com a casa paterna e, enfim,
prostitutas, delinquentes, bandidos, traficantes, etc., rejeitados pela
sociedade.
Enquanto se estabelece a simbiose entre revolucionários e marginais,
nada impede que a antiga aliança entre megacapitalistas e revolucionários subsista
estendendo-se num grande caldo globalista que maquina e apoia campanhas tipo
movimentos gays, pró-abortos, auxilio reclusão (bolsa bandido), desarmamento
civil, liberação de drogas, cotas especiais para negros, lei seca, tudo no
sentido, repito, de adestrar a população para que esta vá aprendendo,
simplesmente, a obedecer os comandos. Quero deixar claro que quem faz estas observações
é um marxista convicto mas que respeita as religiões e rejeita os regimes
soviético, chinês ou cubano, ditaduras do proletariado e máximas imorais tipo
“os fins justificam os meios”. Que acreditando ser o Marxismo um sistema filosófico-econômico
com fundamentos científicos só espera que os marxistas contemporâneos se
lembrem de que tal filosofia, concebida no século XIX, é passível de evolução
como qualquer ciência.
Quero acrescentar que, o que me incomoda nas campanhas lobistas é o fato de contrariarem
o direito individual de decisão sobre as nossas próprias necessidades. Eu
mesmo, como residente em Nova York, já fui membro do movimento Black Power em
Fire Island, com Stokely Carmichael e Miriam Makeba. Que mesmo sendo
heterosexual, também convicto, sempre tive amigos homossexuais muito queridos
que nada tiveram de identificação com as ilusões dos movimentos gays. Mais
ainda, várias amigas lésbicas caracterizaram-me como um macho possuidor de
acentuado lado feminino, tanto que em minha casa é minha mulher quem conserta
computadores, dirige automóvel, assiste jogo de futebol pela televisão e
controla as contas bancárias. Depois de tudo isso só posso comungar com o que diz
minha parceira Joyce Moreno numa letra que fez para uma de minhas músicas:
“Hoje, com meu botões, penso que nada mais me engana...”
C.L.
Novembro de 2015
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