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sábado, 25 de fevereiro de 2012

MÚSICA DE COROA




Música de Corôa

Assisti, recentemente, a um filme nacional - "Olhos azuis" - muito bem escrito e dirigido por José Joffily. Uma cena que me chamou a atenção foi de um diálogo entre um cinquentão norte-americano e uma brasileira adolescente e nordestina. Durante uma viagem de carro, a garota ligou o rádio, alto, pra ouvir aquelas músicas, no caso, bastante ruins. O gringo perguntou se aquilo era necessário e por que ela não ouvia música boa como Bossa Nova, por exemplo. "Isso é música de corôa." Respondeu ela. No que ele contestou: "mas rock and roll ainda é mais velho do que isso!" Imediatamente comecei a conjeturar que Elvis Presley é bem mais antigo do que a Bossa Nova, só que a música foi lançada nos EUA, onde as coisas com o mínimo de qualidade, tendem a se preservar. E a Bossa Nova, nasceu no Brasil, num período muito especial da nossa história e do nosso desenvolvimento econômico. Realmente, na época de Juscelino, os surtos culturais aconteceram em todas as áreas: na música, no cinema, nas artes plásticas, no teatro e na literatura, destacando-se, nessa última, a poesia concreta que foi até exportada para a Europa. Nesses "anos dourados" a juventude acorria aos shows de Bossa Nova que se realizavam nos bares, nos teatros e nas universidades. Isso tudo durou até 1964, quando o golpe militar desencaminhou nossa cultura e educação. E isso até os dias de hoje, onde o público adepto à Bossa Nova, se equipara em faixa etária ao norte-americano do filme que comentei. Sempre afirmei, e repito, que Bossa Nova não é uma música de geração, mas é uma música de classe média, haja vista que até hoje toca-se Bossa Nova nos EUA, na Europa, no Japão e em qualquer lugar onde exista uma classe média significativa. No Brasil, e especialmente no Rio de Janeiro, o berço da Bossa Nova, quando um estrangeiro aqui chega e pergunta aonde se pode ouvir esse tipo de música, temos que responder, melancolicamente, que não existe tal lugar. Além do prejuízo cultural, isso resulta em perda de proveitosos ingressos econômicos, sem falar que o nível cultural da juventude, em sua maioria, quase se equipara ao dos bolsa-família. Por outro lado, a juventude alfabetizada, tende mais a buscar informações na internet, o que não deixa de ser um recurso ao alcance de todos, mas não tem o mesmo encaminhamento cultural que um disco, uma exposição, um livro ou uma peça de teatro. Com tudo isso resulta a educação ter caído a um nível bastante medíocre. Mas como diz o ditado: "a esperança é a última que morre!".

2 comentários:

  1. Carlinhos, sou doutorando em Música na UNIRIO, professor na Graduação da mesma universidade e, no Mestrado, trabalhei com nosso amigo comum Marcos Valle. Lendo o seu texto, me lembrei de várias discussões que já tive com nosso Marcão como estudioso da música popular moderna que sou. Compartilho de seu desalento ao dizer a um estrangeiro que não há no Rio um local para ouvir Bossa Nova. Outra coisa que lamento é perceber que a Bossa Nova foi desenvolvida por jovens ávidos por uma renovação, por participação, por novas interações. E esse espírito não teve uma continuidade.
    Em nome dele, dá uma tristeza percorrer as salas de aula da universidade e ver os professores ensinando a Bossa Nova como música erudita, restringindo-a aos arranjos de 1958 e não dando ao aluno a liberdade de ousar, arriscar novos vôos, experimentar passos adiante...

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    1. Caro Alexei:

      Tudo se deve ao fato de que a juventude da era Kubitcheck convivia com todo tipo de cultura num Estado da Guanabara estimulante. Hoje, na era Lula, a juventude além de não falar português corretamente, não vê, não assiste nem ouve nada, num Rio de Janeiro pós-fusão com saúde, educação e segurança precárias. Nosso único consolo é que o resto do mundo está igual ou pior.
      Obrigado pelo interesse e os comentários

      Um forte abraço

      Carlos Lyra

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